04 maio 2010

O Tripé

Não, o tripe não é pesquisa, ensino e extensão, mas tem a mesma função do tripé humboltiano na Universidade Pública brasileira. O tripé a que me refiro é o qual o Raiz está montado: a o levante, a pedagogia libertária e a autogestão.

Pronto, lá vem ele de novo! Calma, permitam-me, sem nada de novo no front, tatear a pragmatização de nossa prática tão subjetivada:

O levante é como a pesquisa na universidade, ou seja, é a marca identitária, é o primeiro pé, que permite os demais acontecerem. No Raiz o levante é a essência. Somos o quê? Qual é nossa função social? Essa é a pergunta que nunca pode calar em um projeto verdadeiramente social. Não temos espaço, não temos registro, não temos nada além das pessoas e suas posturas políticas diante a educação popular.

A pedagogia libertária é como o ensino. Trata-se de uma função específica dos que fazem parte do levante. Não é a função primordial da Universidade, não é a função primordial do Raíz. Porém é o que mais se destaca, é o que faz o contato com o mundo exterior, é o que está na linha de frente diante da avaliação do senso comum. O que ensinamos? Por que ensinamos o que ensinamos? E como ensinamos? Nosso processo de ensino apredizagem não tem protagonista e é necessariamente emancipatório. Precisa de muito além do espírito crítico, da consciência sociológica dos processos, dos indivíduos e sua posição no quadro da sociedade, da política em todos os sentidos, principalmente no campo do conhecimento, da ciência, das disciplinas, dos voluntários.

A autogestão é como a extensão, é o que permite por em prática tudo isso, se retroalimentando (e por que não dizer, antropofagicamente) a sermos um levante de educação libertária. É o que nos permite perguntar quem está fazendo o que? E por que? polticamente falando, claro. Trata-se da consciência de nosso papel, de tomar as rédeas, de sermos iguais, metanóicos, sermos a raíz.

E alguém me pergunta sobre um texto que escrevi tem quatro anos: e a horizontalização? E a democracia consensual? Não, não esqueci.

Devolvo em forma de pergunta: como ser autogestor e libertário sem buscar horzontalizar-se? Horizontalização é especulação, não há, nem e pela própria linguagem, sua possibilidade plena. É busca. Nunca seremos iguais em sociedade, e leia o texto "Certas ciladas da igualdade", que publicamos aqui tem uns dois anos! Entretanto, horizontalização é horizonte, deve sempre ser buscada, mas sua intensidade depende de que lugar de nossa historicidade estamos. E como horizontalizar-se sem consenso? E como fazer tudo isso sem ser um levante(ou pesquisa)? Por ai vai.

Sigamos...

23 abril 2009

A REDUÇÃO DOS OBSTÁCULOS DIANTE DA INFORMAÇÃO DE QUALIDADE

""A forma mais autêntica de inclusão social é partilhar o pão do conhecimento que não perece, mas multiplica-se." (Paulo Corrêa)

Devido ao surgimento da internet a informação ficou mais acessível aqueles que a demandavam, porém surge outro entrave: a sobrecarga de informação de má qualidade. Devido a este problema o internauta encontrou facilidade em se perder no labirinto desses emaranhado de informações, que não raro, tem sido passadas de forma, ou melhor, deformadas, fragmentadas e modificadas no que diz respeito às fontes confiáveis. A proposta iluminista setecentista de difundir o conhecimento continua na ativa no século atual. No dia 21 de abril será lançado na sede da UNESCO em Paris o site Biblioteca Digital Mundial que oferecerá gratuitamente um acervo de livros, manuscritos e outros documentos digitalizados. O site funcionará em sete idiomas: francês, inglês, português, espanhol, árabe, chinês e russo.

Quem reclamava da baixa qualidade de informações, a biblioteca digital poderá solucionar essa questão em função da acessibilidade às fontes, títulos e autores de suas respectivas obras. Entretanto qual será o próximo obstáculo? Precisamos aguardar para ver e...

Site:http://project.wdl.org/project/english/index.html

Paulo Sérgio dos Santos Corrêa, estudante de biblioteconomia (1º ano) na FAINC (Faculdades Integradas Coração de Jesus) - texto criado em 18/04/09 as 21:41:58.

16 março 2009

Uma Coordenação para o Futuro do Projeto Raiz

“Todo Prazer Requer uma Eternidade” (Nietzsche)

Na reunião do dia 08/02/2009 foi escrita mais uma página importante da História do Projeto Raiz. Nesta reunião tivemos a oportunidade de realizar uma rotatividade na Coordenação Geral. A pessoa cotada para assumir esta responsabilidade foi Karla Carolina que recebeu a aprovação unânime dos presentes, sendo, que a comunidade terá três semanas para se manifestar sobre a sua posse.

Sei que muitos interpelarão sobre a minha saída da Coordenação Geral, mas sei também, que irão entender que continuar nesta função seria ceifar pela raiz os novos frutos, as novas gerações de gestores e estagnar o vasto campo de oportunidades inerentes ao Projeto Raiz. Eu tive a minha oportunidade e que outras pessoas, também, tenham a sua.

A mudança na Coordenação Geral significa uma nova gestão fundada em novos olhares, métodos, sonhos e desafios. Um exemplo deste desafio foi posto no ano de 2008, quando surgiu a necessidade de flexibilizar a organização e fortalecer o nosso caráter político como movimento social pela educação popular. Isto demonstra que o Projeto Raiz não é estático e sim dinâmico e orgânico, necessita de transformações constantes, porém, graduais e responsáveis.

Tenho consciência da necessidade destas transformações. O que já foi feito em termos de coordenação não deve ser encarado como modelo estanque e sim como algo que precisa e pode ser superado, resguardando os avanços concretizados. Estou consciente, também, da capacidade da Coordenação para realizar tamanha tarefa, inclusive, ir além. A Coordenadora Geral vai poder contar com uma das melhores equipes que já existiu nestes 10 anos de história do Raiz.

Tudo isto é motivo de muita felicidade, pois o que era impensável a pelo menos três anos atrás, hoje é mais do que realizável, é concreto: uma sucessão que inspira segurança e boas perspectivas.

Fico mais Feliz ainda por, no dia Internacional da Mulher, elegermos uma Coordenadora Geral. Acredito que o Projeto tem muito a ganhar, pois nada se compara com a sensibilidade e a determinação das mulheres, foi o que aprendi trabalhando ao lado delas, nestes longos anos de Raiz.

Congratulação também, ao Educador Gerson, que acompanha o Projeto desde o seu nascimento e nos últimos tempos se agigantou nos trabalhos concernentes a Coordenação. E hoje tem a honrosa missão de compor efetivamente o grupo gestor.

Em relação ao meu futuro no Projeto? Está mais do que certo, continuo como Educador .

O Raiz é uma grande família que me proporcionou um amadurecimento intelectual e humano. Não há dúvidas, ainda tenho muito que vivenciar e aprender com esta família, que nas palavras do poeta Chico Buarque, nunca deixa de:

“Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder”
...

“Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão”

Agradeço aos meus Mestres, Antigos e Atuais Companheiros de Coordenação, Educadores, Educandos e Voluntários.

Agradeço a todos!
Saudações à nova Coordenação!

__________________________________
São Paulo 12 de março de 2009
Carlos Miranda – Educador

30 setembro 2008

Evento Comemorativo dos 10 anos de Raiz

O projeto Raiz faz 10 anos e para marcar este momento teremos um evento comemorativo. Você que já fez ou faz parte do Projeto Raiz é nosso convidado especial!

Para confirmar sua presença passe no Projeto Raiz e adquira seu convite. O valor é você quem determina, esperamos por você aos sábados entre 9h e 16h. Venha o quanto antes!

28 setembro 2008

O outro lado da Bolívia

Olá pessoal,

Esta é uma mensagem de um brasileiro que vive na Bolívia, que vê os acontecimentos de outro ângulo, não do ângulo capitalista e opressor que dominam o mundo globalizado.
Leiam por favor, o texto é grande, mas vale a pena.

Abraços,

Queridos amigos e amigas,
Mas uma vez me sinto no dever manifestar o meu pensamento sobre os últimos acontecimentos passados aqui na Bolívia. Para começar quero lembrar a todos que estou aqui como voluntario permanente do Movimento internacional ATD Quarto Mundo, que atua em muitos paises lutando junto com as pessoas quevivem na extrema pobreza para que tenham reconhecidas sua dignidade humana. Não estou envolvido em políticas partidárias, com governo ou oposição. Apenas faço uma leitura a partir de informações que certamente não chegam até aí. Para começar asseguro a todos que estamos muito bem e que não existe qualquer previsão de que os distúrbios possam chegar aqui a La Paz. La Paz fica no ocidente, o altiplano boliviano que tem uma população conformada majoritariamente por pessoas de origem Aymara e Quechua. Desde a chegada dos espanhóis, os povos e as terras do altiplano foram exploradas a exaustão, sustentando toda a Bolívia e, durante pelo menos um século, todo o império espanhol. Na era republicana os indígenas continuaram sendo explorados e discriminados pelas classes dominantes, descendentes de europeus. Até a eleição de Evo Morales, uma pessoa com sobrenome indígena não podia entrar em uma universidade ou aceder a um posto no exército (exemplos básicos). Em Sucre (capital constitucional e um dos focos de distúrbios) alguns restaurantes proibiam explicitamente a entrada de indígenas (continuam fazendo isso na prática).O Oriente, cuja principal cidade é Santa Cruz começou a desenvolver-se com mais força a partir da década de 70 num modelo de latifúndios agrícolas baseado na exploração e dominação dos povos indígenas dessa região (as maiores populações são de guaranís e chiquitanos). Até hoje são recorrentes os casos de trabalho escravos nesses latifúndios. As elites do país sempre governaram com mão forte, delapidando todas as riquezas naturais do país, estimulando o tráfico de cocaína (ao mesmo tempo em que combatiam oconsumo da folha de Coca), com uma estrutura estatal corrupta que não atende as mínimas necessidades da população. Em alguns momentos históricos, algumas categorias profissionais, principalmente os mineiros responsáveis pela principal riqueza do país, chegaram a obter uma certa força de pressão e foram violentamente reprimidos no estilo das piores ditaduras que passaram pela América Latina. A eleição de Evo Morales que só foi possível depois de alguns anos de fortes mobilizações sociais foi um marco importante num processo de mudança no país. Pela primeira vez, num país onde quase 70% da população se identifica como pertencendo a algum povo indígena, um "índio" chegava ao cargo. E por primeira vez os grupos dominantes se viam fora do poder central ao mesmo tempo em que perdiam a maioria no congresso. Mas continuaram com um domínio total dos grandes meios de comunicação.. E mantiveram também o poder em seus departamentos (estados), basicamente Tarija, Santa Cruz, Beni e Pando aonde estão as novas riquezas bolivianas, o gás e o petróleo. Todos os atuais prefeitos (governadores) desses departamentos são afilhados políticos do General Hugo Banzer duas vezes presidente do país (uma vez através de golpe de Estado e outra eleito "democraticamente" pelos meios de comunicação), uma das figuras mias sinistras da história política do continente, sobre quem recai a culpa de inúmeros crimes de tortura, assassinato e corrupção. Também participaram do governo de Gonzalo Sanchez de Lozada que fugiu em 2003 para os Estados Unidos para escapar de um processo de genocídio pela morte de 64 pessoas. Evo herdou uma estrutura estatal corrupta, falida e quase sem presença nos departamentos mais distantes, principalmente os amazônicos, Beni e Pando, aonde um pequeno número de famílias são a lei. Detém o poder político e econômico, seus filhos e protegidos fazem o que querem sem precisar se preocupar com qualquer punição. Há algumas semanas eu fui a Cobija capital de Pando, na fronteira com o Acre. Aí só é possível chegar de avião num aeroporto sem nenhuma estrutura ou em 3 dias de ônibus, saindo de La Paz, na época de seca. No próprio ambiente da cidade e nas conversas com algumas pessoas de confiança, se sente o domínio total do prefeito Leopoldo Fernandes. Ali na região da tríplice fronteira Brasil-Peru-Bolivia é de conhecimento comum o envolvimento do "cacique de Pando" como gosta de ser chamado, nos latifúndios pecuários,madeireiras e tráfico de drogas, sendo inclusive suspeito de algumas mortes, cujas investigações nunca são concluídas. Enquanto estavam no poder central essas lideranças nunca falaram em "autonomia", as propostas nesses sentidos vinham dos movimentos sociais pedindo autonomia para os povos indígenas. Agora que voltaram aos seus redutos levantam a bandeira da autonomia departamental como soluçãode todos os problemas. É certo que a Bolívia precisa de um processo de descentralização, mas essas propostas de autonomia tem como único objetivo manter o domínio e privilégios sobre as terras e recursos naturais dos seus departamentos. Os chamados estatutos autonômicos, que são verdadeiras constituições paralelas, desconhecem leis federais e o governo central. Uma das grandes questões é que a nova constituição traz uma reforma agrária radical e necessária impondo um limite a propriedade que afetaria diretamente suas riquezas. O outro ponto é o controle sobre os lucros do Petróleo. Pelos estatutos, esses dois pontos ficariam sob controle do governo departamental. Essa última onda de violência têm como desculpa o corte de 30% feito pelo governo sobre o Imposto Direto sobre Hidrocarburos (IDH) que é repassado as prefeituras, para pagar uma renda mensal mínima aos idosos (que até então não recebiam qualquertipo de assistência). Essa desculpa é bem esfarrapada, já que com as nacionalizações feitas pelo governo, essas arrecadações aumentaram absurdamente, de modo que as prefeitura não conseguiam gastar nem 60 % desses recursos e não existe qualquer projeto ou proposta para a utilização desse dinheiro. O verdadeiro objetivo é atacar e debilitar o governo levando a dois caminhos: ou derrubar o presidente e voltar ao poder central, ou acirrar os conflitos levando a uma divisão do país. Não são poucos os que gritam "independência" pelas ruas de Santa Cruz.O governo e agências estadunidenses sempre estiveram presentes e influindo em todas as etapas da política boliviana. Enquanto com uma mão oferece apoio humanitário, com a outra gera dependência, violência e miséria, para seguir com os comércios de armas, drogas, medicamentos e outras práticas. Isso até a mais ingênua das pessoas sabe que acontece em todas as partes do mundo. A expulsão do embaixador Phlip Goldberg (que tem um currículo considerável como um dos marcável atuação nas guerras de divisão da ex-Iugoslávia), não foi um ato impensado ou irresponsável como se anuncia, ele foi alertado várias vezes sobre suas interferência na política do país e suas relações com os grupos de oposição. Como base de sustentação para essa política de enfrentamentos e dominação, existe um aparato ideológico fortíssimo capaz de fazer inveja aos propagadores do nazismo na Alemanha. Aliás, certamente inspirada por eles. Os habitantes do ocidente (La Paz) são chamados de Kollas e do oriente de Cambas. Depois da segunda guerra mundial, algumas importantes figuras do governo de Hitler fugiram para a América do Sul. Algumas delas vieram parar em Santa Cruz para onde também vieram, na década de 70, croatas fugindo do comunismo. Uma dessas lideranças nazistas foi Klaus Barbie, "o carniceiro de Lyon" que viveu 40 anos na Bolívia antes de ser capturado. Essa história acaba de ser lançada em filme. Aí se estabeleceram com grandespropriedades de terra e ajudaram na disseminação de uma ideologia racista. Durante muitos anos esse ódio ao indígena e ao Kolla seguiu latente, explodindo em algumas ocasiões e se condensando em alguns grupos específicos como a União Juvenil Crucenhista e seus similares em outros departamentos. Milícia facista nosmoldes da Juventude Hitleriana (da qual Barbie fez parte) que funciona como tropa de choque das oligarquias. Não têm nenhuma vergonha em exibir a suástica pelas ruas, em ameaçar e atacar pessoas de acordo com a cor da pele ou lugar de origem. As táticas utilizadas para criar esse clima de ódio entre a população são as mesmas de sempre. O medo, a ignorância, o controle da informação, a crise econômica. Os culpados de tudo são os Kollas, assim como na Alemanha eram os judeus, ou como aqui em La Paz são os peruanos. O problema sempre vem de fora. Nesse caso, o que atrai é a idéia de uma Raça Camba (explicitamente), branca, europeizada, moderna, rica e desenvolvida, contra uma massa subhumana, atrasada, morena,indígena, etc.Quando estive em Cobija estavam bloqueando a ponte que liga à cidade de Brasiléia no Brasil, de onde vem milhares de brasileiros para fazer compras nos fins de semana, desde Rio Branco e outros lugares ainda mais longe. Na minha cabeça, não fazia sentido atrapalhar a principal atividade econômica da cidade e resolvi averiguar. A coisa é que o comércio da cidade é feito por migrantes de Cochabamba, La Paz, Oruro, Potosí... ou seja de Kollas. Então o objetivo era atingir diretamente a essas pessoas, e não o governo. Conversando com uma senhora, ela me falou sobre os "paros civicos" (greves) quando elas são obrigadas a fechar as lojas como se estivessem apoiando a manifestação. Quando perguntei como faziam isso ela me disse: "Eles vem de moto, quebram os vidros levam a mercadoria, agridem, não tem jeito".Essa última crise é a mais violenta desde que estou aqui. A situação é grave. Já a algum tempo as pessoas vem sendo agredidas somente por que vem de La Paz, Oruro ou Potosí, porque são Ayamaras ou Quechuas, ou porque supostamente simpatizam com o governo. Nessa terça-feira, a violência explodiu em Santa Cruz e Tarija, com a invasão violenta e saques de instituições publicas, ONGs, federações de camponeses e indígenas, ataques a casas e comércios de Kollas, Instituições de apoio cubanas e venezuelanas. Nem mesmo os canais de televisão puderam maquiar as imagens que mostravam roubos, vandalismo, linchamento de homens e mulheres. Agora falam em confrontos entre manifestantes contra e a favor do governo. Não se trata disso, até porque os movimentos que apóiam o governo não tiveram nem tempo de se mobilizar. O que aconteceu foram ataques diretos a camponeses, trabalhadores e qualquer outra pessoas identificada por eles como sendo a favor do governo. Quando foi possível essas pessoas se juntaram para se defender. Como no caso do mercado camponês, quando chegaram jovens unionistas para invadir e saquear. Os comerciantes se juntaram não para defender o governo de Evo Morales, mas seus bens e suas vidas. Apesar de terem conseguido impedir a invasão muitos saíram feridos. A pior situação é em Cobija, aonde segundo os jornais, morreram oito pessoas, mas fontes muito mais confiáveis revelam que o número passa de 20! Além do que os jornais falam que os camponeses estavam armados e teriam atacados a funcionários da prefeitura. Nova mentira. Os camponeses não estavam e não estão armados, seus líderes estão sendo perseguidos, não estão podendo resgatar os corpos dos companheiros vitimados, seis foram encontrados boiando no rio, entre eles o de uma mulher grávida. Um grupo de quase 15 pessoas está sendo mantido como refém. Isso foi o que eu pude saber até agora.Para quem se preocupa com a situação da Bolívia eu dou um conselho. SEMPRE desconfiem das notícias, porque em quase 100% dos casos trazem mentiras e interpretações tendenciosas. Os caminhos para uma solução pacífica parecem bem difíceis. Os movimentos sociais agora também estão mordidos e prometem reagir. Cobram do governo uma posição mais dura, como a decretação de um estado de sítio e uma militarização das regiões, o que o governo se nega a fazer. Os grupos dominantes não vão abrir mão dos seus privilégios. De uma maneira eu vejo como uma elite derrotada e decadente em seus últimos esforços desesperados de manter seu domínio, mas que ainda representa um perigo muito grande para o país e para a região. É uma situação muito complicada.
Apesar disso, eu tenho fé em Deus e no povo que vai saber encontrar seu caminho na construção de um mundo melhor. Os pobres sofrem com a violência a cada dia, independentemente da situação do país. Estão cansados disso. Querem paz. Mas uma paz com justiça, respeito e dignidade. Não vão se submeter outra vez ao jugo das elites. Nesse caminho eu vejo que não há volta. O governo de Evo tem muitos problemas, mas tem pelo menos esse logro, de fazer com que as pessoas saiam da humilhação, da vergonha e comecem a lutar por seus direitos. Com o sem o Evo vejo que esse processo não tem volta atrás. A grande maioria não me parece querer revanche ou vingança, só o direito de viver e criar seus filhos com dignidade.Obrigado aos que tiveram paciência de ler até aqui.
Quero dizer que tudo o que escrevi são opiniões pessoais e de minha inteira responsabilidade. Não representam nenhum posicionamento do movimento quarto mundo ou de qualquer outro grupo. Quem achar que vale a pena pode transmitir para quem quiser. Também quem quiser dialogar estou sempre disposto.Novamente volto a recorrer a minha credibilidade pessoal. Quem me conhece sabe das minhas intenções.Um grande abraço a todos!
Eduardo Simas

01 julho 2008

Certas ciladas da Igualdade

Quando o sociólogo francês Bourdieu disse que, na Escola, desiguais devem ser tratados como desiguais, deu-nos um recado muito importante: tratar-nos formalmente como iguais tendo nós origens bastante distintas, e ainda, valorizarmos dons e resultados individuais, sendo nós desiguais em condições, é reproduzir uma sociedade que enfatiza e hierarquiza diferenças, escondendo a distinção do que vale mais no discurso formal e normativo de respeito à diversidade, ou se você preferir, da suposta igualdade perante a lei e ao tratamento. Não é difícil lembrar das próprias experiências para comprovar que a Escola é absolutamente assim, nem se precisa de muita correlação para concluir que uma sociedade que assim o faz, além de objetivamente injusta, é essencialmente hipócrita.
Por sua vez, o grosso da teoria socialista, a começar por Marx, diz que sociedade justa é sociedade sem interesse de classes, de igualitariedade de condições em todos os campos e em todos os sentidos. Assim, desdobrando a teoria à atualidade, seria uma sociedade que visa eliminar desigualdades estruturais e “estruturantes”, ao mesmo tempo em que possibilita-nos o pleno exercício da diversidade. Todos diferentes, vistos como diferentes, diversos, mas nunca desiguais em possibilidades.
No ocidente, temos a igualdade formal, liberal, em uma sociedade que valoriza o mérito, o esforço e conquista individual, meios ideais para o cultivo da competitividade capitalista, e é claro, graças à isonomia e ao discurso da diversidade que dela se correlaciona, temos desigualdades em muitas esferas sem o ônus dos conflitos que o escancaramento destas desigualdades deveria gerar.
A direita se constrói mergulhada nessas diferenças expostas e desigualdades camufladas. O sociólogo Flávio Pierucci dá uma boa dica para se pensar a direita, para estas pessoas “a ilusão do sensível encaixa à construção do perceptível”, ou seja, na direita segregamos as partes do mundo baseados no que percebemos com os sentidos, e tomamos isso como base de nossas verdades. Homens e mulheres são iguais perante a lei, mas tidos como visivelmente diferentes, tratados de maneira desigual, desigualdades baseadas nessas diferenças aparentes. Os debates sobre isso na mídia passam longe da discussão sobre o gênero; na tela da TV, bem como nas mesas de bar, diferenças entre homem e mulher são dadas, biologizando uma questão que é essencialmente social.
Para ficar mais fácil, trace uma reta. Infinita. Para a esquerda desta reta temos a direção de uma igualdade plena, utópica, abstrata, e tão simetricamente dada, que todos os seres nela podem ser absolutamente diferentes sem que nenhuma diferença incorra em desigualdade de qualquer natureza. Em outras palavras um extremo de sociabilidade, uma diversidade plena, mas concomitada e concomitante à igualitariedade absoluta. Então, fica tudo aparentemente simples. Quando mais perto disto, mais à esquerda, quando mais longe, mais à direita. Certo? Errado!
Se as coisas só dependessem deste referencial para entrar na reta, Jesus estaria mais a esquerda que Che Guevara, já Maluf e Hebe estariam próximos de Hitler. Ainda que o último caso me agrade, a idéia não é boa o bastante para explicar-nos o dilema.
A posição na reta só pode ser pensada de acordo com a predisposição de subversão da ordem social (tradição, conservadorismo, estamentos, senso comum, hierarquias, democracia majoritária e formal, enfim) em prol de maior aproximação do ideal de igualitariedade. Nesse sentido quase tudo que conhecemos está à direita. Como o ideal de igualdade é abstrato, difuso, e tende ao infinito, além dessa rebeldia fundamental, uma crítica constante as próprias percepções e especulações são pré-requisitos indispensáveis para a esquerda em qualquer posição.
Em suma, o texto é prescritivo: a defesa desenfreada da diversidade por parte da direita mascara desigualdades que a própria direita fomenta. A defesa desenfreada da diversidade por parte da esquerda também é perigosa, porque ela deve ser desejosa de uma igualitariedade de condições, e não de existência, e em tempo, defender a diversidade não é defender uma igualitariedade que permita a coexistência pacífica e justa de um mundo diverso.

Stevens Beringhs

23 abril 2008

ISENÇÃO da UNICAMP

A COMVEST (Comissão Permanente para os Vestibulares) já abriu o pedido de isenção para a prova da UNICAMP. Mais informações no site do Projeto Raiz.