31 outubro 2006

Um breve olhar sobre o Raiz

As palavras a seguir não têm pretensão de verdade. Essa é a minha idéia do Raiz. Sou mais um voluntário, admirador do projeto, e escolhi sobre ele escrever na carona desta centelha iniciada pelo Miranda.

Não sei bem como o Raiz nasceu. Certamente Sergei Alvarez nos recontará os primeiros passos dados por ele e Altemar Baleeiro, aqui, neste espaço. O que sei é que ambos fundaram o Projeto pelos idos de 1998. Quando cheguei ao Raiz lá estava encampada a tal Escola Municipal Miguel Vieira, Cidade Dutra, extremo sul paulistano. Cheio de força, ainda novinho, o Projeto era o único cursinho comunitário da Região. Ao final de 2006 já são oito cursinhos das mais distintas vertentes por aqui.

Lembro que na época havia um Frei, que também pouco conheci, de alcunha Leonel. Era o braço da Comunidade Eclesiástica de Base que deu apoio inicial ao Raiz. Lembro do Centro Social Jardim Primavera, um espaço comunitário nas proximidades onde realizávamos algumas poucas reuniões e eventos. Havia também diferentes forças no projeto, geralmente individuais, se manifestavam através de voluntários discordantes e Assembléias lotadas e combativas. Tínhamos anarquistas, socialistas, religiosos ligados a pastoral, voluntários assistencialistas, liberais democratas, membros de outros movimentos e até políticos eleitos de vez enquanto.

Nestes nove anos passamos por organizações distintas, maior e menor participação de educandos e educadores, diferentes materiais didáticos. Dada esta luta, vi centenas como eu forjarem sua consciência política e educativa, sábado após sábado.

Portanto o Raiz é feito de pessoas e seus ideais. Nada mais tem além disso. Os educandos do Projeto sempre foram oriundos de regiões pobres, por vezes miseráveis da Zona Sul de São Paulo. Em sua maioria são jovens e de etnia afrodescendente. Alguns se formaram há 10, 20, 30 anos atrás. Nossos quadros de voluntários são das mais variadas formações, classes, histórias e correntes. Muitos foram alunos do próprio Projeto e hoje são educadores e colaboradores.

Imprescindível dizer que sempre foi incompatível com os fins do Raiz o intuito de lucro e a obtenção de vantagens pessoais de quem quer que fosse. O educador do Raiz sempre trabalhou em absoluta condição de voluntariado. O espaço físico do projeto é o espaço público e gratuito. O material usado em sala de aula sempre foi fruto da doação voluntária de educadores, educandos e da comunidade local, jamais havendo algum tipo de financiamento, subsídio ou mesmo doação proveniente de qualquer pessoa jurídica.

O Raiz é, portanto, um não lugar, um movimento social, um transitório constante, um espaço de convivência educativa, político, comunitário, absolutamente horizontal, democrático, autogestor, gratuito e com foco na educação pré-universitária.

Entende-se por pré-universitária a construção de uma autonomia intelectual e política necessariamente prévia ao Ensino Superior. Uma consciência universitária que permita ao sujeito a consideração das principais variáveis político-sociais e suas contradições durante a construção de sua cidadania.

Subentende-se a NEGAÇÃO de uma formação exclusivamente “vestibulesca”, assistencialista, norteada pela competitividade do sistema educacional vigente, reforçada e estimulada pelos mercados e cursos pré-vestibulares COMUNITÁRIOS OU NÃO. Nossas ações sempre caminharam em prol da construção de um sistema de ensino que zele pela coexistência humana em sua plenitude, levando em conta a democracia consensual e a dignidade de todo e qualquer ser humano. O Raiz é apenas um meio para que o sujeito do conhecimento atinja a plena autonomia.

Logo, não somos institucionalizados juridicamente. Não somos Ong, não somos Associação, não somos Escola. Um dia isso pode mudar, sempre pôde, não importa. Somos parte anônima de um gigantesco movimento social na bandeira da Educação humanista. Somos todos voluntários por um mundo realmente livre, igual e solidário.

Stevens Beringhs, educador do Raiz.

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